Boa passagem!

Páscoa. Sempre após uma noite de lua cheia, após o equinócio da primavera, e entre 22 de março e 25 de abril. Páscoa vem da palavra judaica ‘pessach’ que quer dizer ‘passagem’ (para a liberdade).

E é aqui que me prendo. Que me viajo. A maior parte dos caminhos dos significados vão desaguar quase-quase sempre ao sentido da liberdade. Sendo a tradução de Páscoa ‘passagem’, pode, então, o termo desdobrar-se para outros conceitos, como ‘mudança’, ‘transformação’, ‘alteração’.

E é aqui que me prendo. Que me viajo. A sede de mudar. Mais uma oportunidade, depois da passagem do ano, para ‘modificar’. Largar passados poeirentos, e ensaiar passos novos em presentes e futuros rosas e cores assim infantis. Porque no infantil é tudo belo, airoso, infalível.

Portanto, para mim, desde sempre, Páscoa, assim em letra maiúscula, é uma oportunidade, em grande, a segunda do ano, para ‘renovar’. Para me renovar. Para nos renovar. Renovar e permanecer. Saber o que renovar.

Permanecer com o fio da gratidão na ponta do coração. Permanecer como acrobata no melhor de nós mesmos. Renovar no lado mais perecível de cá de dentro e de cá de fora.

Feliz Páscoa. Com votos de uma renovação-permanente-alerta-doce-melodia-do-ser.

 

 

O sol pinga nas janelas sujas do metro

O sol pinga nas janelas sujas do metro. É Páscoa deviam esfregar isto tudo. Vai a bailar a empregada de limpeza com o balde numa mão e a esfregona na outra, agarrada ao varão, e os olhos agarrados ao vidro fosco em jeito de pegada de um inverno que passou. É Páscoa deviam esfregar isto tudo. Reitera a mulher com o olhar escorrido e o profissionalismo que lhe foi ensinado desde sempre e para sempre. Fala alto à espera de consentimento por parte de quem não entende de vidros foscos, e quem anseia apenas pelo feriado, que é o que a Páscoa tem a ver e não É Páscoa deviam esfregar isto tudo.

Quem tem o coração perto da boca faz dos outros ouvidos-moucos.

Ela bate na mesma tecla. E o resto dos passageiros à procura de significado naquelas palavras, nada dizem. Isso ou apenas falta de coragem. Quem tem o coração perto da boca faz dos outros ouvidos-moucos.

É Páscoa e os vidros caminham foscos. À espera que alguém se dê conta da necessidade de Renascimento em dias tão adormecidos.